Uso de drogas: Sem rumo (conto by Lela Rago)




Meu pai entra em casa jogando sua maleta sobre o sofá e questionando:

— E ai campeão, tem alguma novidade para me contar?

— Sai da reserva e agora sou o goleiro oficial do time infantil do clube. — respondo com um sorriso maior do que minha cara é capaz de comportar.

— Puta merda, que maravilha! — meu velho grita e me abraça — Estou orgulhoso de você, meu filho!

Sorrio satisfeito, uma coisa que amo em nossa família é de não termos vergonha de demonstrar nossos sentimentos.

— Oi amor, o que achou da novidade? — minha mãe surge e beija os lábios do meu pai — Nosso garotinho é a atual revelação do time.

— Em dois anos, vou ser o melhor jogador de futebol de todos os tempos! — faço uma previsão.

Este é meu sonho desde que me entendo por gente, meus pais sendo quem são, deram seu total apoio. Hoje estou com treze anos e consegui entrar para o time oficial, se tudo der certo aos quinze serei escalado para participar do time de juniores, depois o estrelato será fácil.

— Hoje vamos jantar fora, — minha mãe avisa — precisamos comemorar o início da carreira de Max, o próximo Dida no time do Corinthians.

— Isso, e eu escolho o restaurante! — grito.

— Querida, acho que vamos comer lanche. — meu pai choraminga e minha mãe ri.

— Velho, você não sabe de nada, eu quero ir comer churrasco e encher a cara de picanha.

— Este é o meu filho. — meu pai gargalha.

*****

Dois anos depois, com meu nome sendo cogitado para participar do meu primeiro campeonato de futebol com algum valor, recebo uma notícia que me quebra completamente, destruindo todos os meus sonhos.

Meus pais foram fazer uma segunda lua de mel e fiquei na casa do melhor amigo do meu pai e também seu advogado na empresa, estava jogando videogame e Arturo se aproxima taciturno.

— Max, precisamos conversar, amiguinho.

— Põe pra fora, amigão. — coloco meu joystick na mesa.

Fico surpreso ao encarar seus olhos marejados, neste momento entendo que alguma merda aconteceu.

— Filho, seus pais estavam voltando da viagem e…

— Fala logo! — grito.

— … o avião… — Arturo começa a chorar, mesmo sem saber o motivo choro com ele, é uma porra ser emotivo — sinto muito filho, seus pais não estarão mais aqui por você.

— Não, tio, você está errado! — choramingo — Eles foram passear e logo voltarão.

— Não, amiguinho, não irão voltar, o avião explodiu em pleno voo.

— Não… não… tio, para de mentir para mim! — grito descontrolado.

Arturo me abraça forte e entendo que minha vida acabou, que meus sonhos perderam o valor e que devem ser esquecidos porque não terei meus amados pais para ficarem orgulhosos e felizes pelos meus feitos. Limpo minhas lágrimas e me afasto.

— Alguma chance deles estarem vivos?

— Não, Max.

— Irei para adoção?

— Não, seu pai, logo que você nasceu, fez um documento passando sua tutela para mim para o caso de alguma coisa acontecer com eles. Morriam de medo de deixá-lo sozinho em virtude das suas infinitas viagens.

— Mesmo assim, não as abandonaram. — afirmo amargo.

— Não. — ele sussurra com tristeza.

Encaro Arturo e aviso.

— Muita coisa vai mudar de hoje em diante, talvez repense em me aceitar como tutelado.

— Eu o amo como filho e nada vai me afastar de você, amiguinho.

No dia que ficou confirmado o falecimento dos meus pais, abandonei o futebol e parti para autodestruição começando a beber qualquer coisa que me fizesse sair do ar.

— Max, o que pensa estar fazendo consigo mesmo? — Arturo pergunta bravo.

— Avisei que as coisas seriam diferentes. — dou um sorriso bêbado.

— Diferentes sim, piores não. — ele afirma triste — Pensei que abandonar seu sonho de se tornar jogador de futebol fosse o máximo que iria acontecer.

— Enganou-se, cansei de ser o bom moço, os bad boys conseguem mais garotas. — gargalho.

— Melhor ser virgem do que bêbado.

— Ainda é virgem, amigão? — eu o provoco.

— Nem virgem nem bêbado. — ele responde sério e sai do quarto.

Em um ano estava mais conhecido nas bocas de fumo que em qualquer outro lugar, pois percebi que o álcool não era o suficiente e parti para drogas, cocaína foi a minha primeira escolha.

Um dia Arturo chegou em casa e eu estava prostrado na cama, fui levado para o hospital e dali fui internado em uma clínica para reabilitação.

— Não vou ficar aqui, não sou a porra de um viciado, você está exagerando, Arturo! — grito antes dele sair.

Ele me encara de cima a baixo e sem uma única palavra vai embora.

— Que porra!

— Calma, Max, vamos cuidar bem de você. Sou Nilson, seu enfermeiro.

— Grande bosta!

— Não sou grande, mas sou forte. — Nilson gargalha.

— Um piadista, eu mereço! — reviro meus olhos.

— Maximilian, sou a doutora Joana…

— Maximilian é o caralho, Maximilian está enterrado a sete palmos, sou Max! — grito.

— Muito bem, Max, — ela se corrige — como está muito nervoso vou ministrar um calmante, quando se sentir melhor vamos conversar.

— Agora estamos falando a mesma língua, quanto mais drogas melhor. — dou um sorriso cínico.

— Prefiro a palavra medicamentos, drogas é o que pretendemos tirar do seu organismo.

A boa doutora até tentou, mas quando recebi alta voltei a ser quem eu era, como não queria ser internado novamente resolvi usar as drogas em casa de amigos e voltar para Arturo no dia seguinte, o que ele não sabe não existe, penso com sarcasmo.

— Experimenta isso aqui. — Big Tom diz.

— Que porra é esta?

— Uma merda nova no mercado, ganhei do meu traficante.

Dou de ombros e injeto, no mesmo instante sinto um taquicardia e me assusto, a sensação não foi a esperada, começo a transpirar e resolvo andar pela sala, esta droga não me fez bem, estou realmente confuso, caio no sofá e apago.

Acordo com o sol alto, olho em volta e meus amigos ainda estão dormindo, o mais curioso é que estamos todos nus, que porra foi aquela que Big Tom arrumou? Não lembro de nada depois de ter sentado no sofá.

Preciso ter mais controle do que uso, levanto, coloco minha roupa e saio. Na calçada, por um momento não lembro a direção de casa, que porra. Puxo um ar lentamente e minha mente parece clarear.

— Achei que teria que chamar a polícia. — Arturo afirma quando passo pela porta de entrada de nossa casa — Parece que gastei dinheiro à toa naquela clínica.

Não respondo e vou para meu quarto, caio na cama e apago novamente. Levanto com o sol baixando e com uma fome absurda, faço um mega lanche com tudo o que há na geladeira e me empanturro.

— Que porra foi aquela que Big Tom me deu? Por que estávamos todos nus? — questiono-me.

Demorei uma semana para me recuperar dos efeitos colaterais daquela droga, quando voltei ao ‘ap’ dos meus amigos, outra droga estava rodando de mão em mão, resolvi ficar com meu tradicional êxtase.

— Está virando covarde, Max? — Big Tom pergunta.

— Cara, sumi porque não estava bem, aquela droga bateu forte no meu organismo e não de uma forma legal. Não quero ser cobaia do seu traficante.

Ele gargalha e enfia dois comprimidos goela a baixo. Estou curtindo minha vibe e uma garota nova aparece ao meu lado.

— Está afim de companhia?

— Gatinha, estou tão chapado que duvido que meu pau consiga erguer um centímetro sequer. — digo rindo.

Ela começa a se despir ao ritmo da música de fundo, quando dou por mim, todos os caras vêm se esfregar nela, ela arranca a roupa deles e começa a transar com os três ao mesmo tempo. Big Tom senta ao meu lado e começa a se masturbar, fixa seu olhar em mim e toca meu pau.

— Big Tom, não estou no clima, cara, e homem não é minha praia.

Ele dá de ombros e elimina sua roupa, se aproxima da orgia em nossa frente e acaricia um dos cara que está lambendo a moça, como é ignorado pega um gel, lubrifica seu pau e entra no cu do tal que por sua vez fica de boa com aquilo. Que porra, será que aconteceu o mesmo outro dia?

Vou até o banheiro e me tranco lá, acordo ainda é noite. Sigo para sala, todos estão desmaiados uns no chão, outros esparramados no sofá e poltrona. Pego minhas coisas e saio do ‘ap’.

Nos últimos meses, tenho tentado seguir em frente, mas a necessidade das drogas sempre leva a melhor e acabo voltando para a o ‘ap’ do Big Tom para consumi-las, pelo menos fui capaz de reduzir as doses.

— Max, tenho uma boa aqui comigo.

— Big, quantas vezes tenho que dizer que não serei cobaia de traficante?

— Este é sua praia, um êxtase da melhor qualidade.

— Amanhã talvez, hoje não estou a fim de me drogar e sim encher a cara.

— Ok!

Sento na varanda com meu copo duplo de uísque e fico lembrando dos meus pais, outro dia saiu a certidão de óbito definitiva deles, foi como perdê-los novamente.

Limpo minhas lágrimas quando escuto um tumulto na sala, abandono o copo no chão e me assusto ao presenciar Big Tom caído no chão.

Por um momento fico estático sem saber o que fazer, pois meu amigo começa a convulsionar e soltar barulhos estranhos de sua boca, de repente a convulsão para e Big tenta desesperadamente puxar o ar para dentro sem sucesso, seus lábios começam a ficar azuis e ele perde a consciência, isso faz com que eu volte ao normal e grite:

— Que porra fizeram com ele?

— Nada, ele usou o êxtase e ficou assim.

— Caralho, liguem para emergência, ele deve estar tendo uma overdose! — continuo gritando.

Caio ajoelhado ao lado dele e tento sentir seu pulso e nada, começo a fazer respiração artificial e massagem cardíaca, minha adrenalina está a mil para tentar ajudar meu amigo, momentos depois sinto um toque em meu braço e um cara dizendo:

— Filho, ele se foi, não há mais nada a fazer.

Sento no chão ao lado do meu amigo com as mãos na cabeça, meu coração está disparado e não sei se choro ou saio correndo. Big Tom morreu? Será que todos que amo morrem? Encaro a pessoa ao meu lado, é um paramédico que pergunta:

— Está chapado, também?

— Hoje ainda não usei nada.

— Ótimo, quer que eu chame alguém por você? Temos que levar o corpo e a polícia vai interditar o lugar.

— Não, obrigado!

Afasto-me e pego meu celular para ligar para Arturo, a única pessoa que me resta no mundo, ele atende ao primeiro toque:

— O que houve?

— Big Tom. — é a única coisa que consigo pronunciar e caio no choro.

— Manda sua localização que vou pegá-lo, amiguinho? Tudo vai ficar bem, basta você voltar a dar valor à sua vida.



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