Manipulação genética: Brincando de Deus (conto by Lela Rago)





Abaddon foi fascinado por insetos sua vida toda. Na infância, os pobres seres tinham suas vidas e mortes controladas por ele. Na escola, quando começou a aprender biologia era o primeiro da turma na matéria e ao ser apresentado a genética se identificou com o tema e decidiu que era este campo que iria seguir.

Ao entrar na faculdade de Engenharia Genética, logo no primeiro dia de aula, tratou de se inscrever para monitoria no laboratório com o intuito de adquirir bastante prática para seus futuros projetos.

Os professores observando sua dedicação, indicavam cursos e palestras, além de uma infinidade de livros de autores considerados essenciais a um geneticista. Abaddon absorvia tudo com fome de conhecimento.

Em seu terceiro ano de curso, foi convidado a participar dos experimentos em curso na faculdade. Ao final do último ano se inscreveu no doutorado e seu projeto de pesquisa foi aceito de primeira, não é necessário dizer que recebeu o título de doutor com louvor e foi convidado a trabalhar no laboratório com autonomia total para os experimentos que quisesse.

Abaddon nunca foi uma pessoa modesta e com o passar dos anos seu ego se inflou de uma tal maneira que começou a ter ideias pouco ortodoxas em suas pesquisas.

Sua primeira experiência questionável veio com a criação de uma nova raça de cães, ele os queria mais letais para serem usados em guerra para defesa dos soldados. Assim, ele cruzou o DNA de pitbull e de cobra mamba negra, como resultado obteve um grande cão negro com os olhos identidos a da cobra, que também são negros, além disso, o animal era extremamente letal pois desenvolveu o mesmo veneno da cobra.

A fama de Abaddon ficou abalada quando o primeiro filhote nasceu. Brincando, o animalzinho mordeu sua mãe, um pitbull de pedigree, e a matou instantaneamente na frente de toda imprensa enquanto apresentava seu grande sucesso.

O pobre filhote teve que ser sacrificado para Abaddon tentar limpar sua imagem. Com este pequeno deslize resolvido, voltou às pesquisas de pouca importância, pelo menos na concepção dele.

Só que sua mente estava em conflito, como poderia abandonar suas brilhantes ideias, afinal a humanidade precisava dele.

Assim Abaddon adquiriu um imóvél e construiu um laboratório secreto no subterrâneo com sua nova residência sobre ele como fachada.

Durante os dias ele trabalhava na faculdade e às noites e finais de semana dava asas às suas pesquisas loucas. Teve alguns sucessos e muitos fracassos que foram rapidamente descartados para não ofuscarem sua imagem novamente, como ocorreu com o cão negro.

Os êxitos, Abaddon vendeu secretamente para países sem escrúpulos quanto à legalidade ou à moralidade dos experimentos. Como resultado, suas finanças cresceram exponencialmente junto com seu ego.

Um dia ele achou que estava na hora de provar sua genialidade como geneticista e criar um ser humano modificado.

O primeiro passo foi fazer testes de compatibilidade de genes e, para sua alegria, conseguiu unir o DNA do inseto Escaravelho-sagrado com o do ser humano.

Testes finalizados, Abaddon contratou dez mulheres para serem mães de aluguel, colheu seus óvulos e os fecundou com um esperma artificial criado em seu laboratório secreto. Dessas dez, apenas quatro engravidaram e as demais foram descartadas, sim, ele as matou, quanto menos provas melhor.

A gestação durou em média cinco meses e as crianças nasceram saudáveis e mais alertas que as humanas normais, assim, interrompeu a amamentação aos três meses e as barrigas de aluguel foram descartadas como as outras.

Aos seis meses a nova raça já andava e falava. Um ano, as quatro crianças, todas meninos, eram capazes de pegar objetos extremamente pesados. Se por um lado sua compleição física era invejável, sua cognição deixava a desejar, com isso, Abaddon, resolveu que eles teriam que ser treinados para obedecer cegamente a ordens.

Aos cinco anos, as crianças desta nova raça eram adultos em miniatura capazes de executar qualquer comando que recebessem. Infelizmente os contatos de Abaddon que se interessaram pelos meninos alfas, como foram apelidados, não queriam crianças tão novas. Assim, combinaram de voltar a conversar quando os alfas estivessem com pelo menos dez anos.

Com uma projeção de vendas a longo prazo, Abaddon resolveu criar mais alfas, afinal, por que ter ganhos com apenas quatro criaturas em cinco anos se poderiam ser quatro mil em dez?

Nesse momento, nosso geneticista, se afastou completamente da faculdade e ficou só com seus projetos particulares. Contratou milhares de barrigas de aluguel, só que desta vez decidiu não descartá-las, um número tão grande de mortes chamaria a atenção da mídia e da sociedade científica.

Como teria uma quantidade absurda de crianças, ordenou aos quatro alfas que construíssem mais quartos em sua casa para comportar os futuros moradores.

Quando os novos alfas nasceram a reforma havia terminado e foram acomodados lá. Abaddon dispensou as mães e os novos alfas foram alimentados na mamadeira por ele próprio e pelos quatro alfas mais velhos.

Estava tudo perfeito até que quatros anos mais tarde o impensado ocorreu, os primeiros alfas adoeceram. Nosso geneticista ficou transtornado, fez inúmeros exames e quando os resultados saíram foi um verdadeiro choque: os alfas estavam morrendo. Ignorando os fatos, ele tentou de tudo para reverter tal desgraça, só que nada foi plausível.

Abaddon ficou desesperado, de que forma poderia sustentar tantas cobaias sem o dinheiro esperado pela venda dos quatro primeiros alfas e, pior, saber que aquelas teriam o mesmo fim que estas.

Como um deus desgostoso com sua criação, Abaddon aniquilou todas as cobaias e partiu para um novo projeto.



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