Hoje faço doze anos e minha casa está repleta de amigos dos meus pais, os meus não foram convidados para não incomodá-los. Dou um suspiro, será que algum dia poderei fazer uma festa de aniversário com pessoas da minha idade?
— Frida, venha receber Serge, meu novo colaborador, e sua esposa. — meu pai diz, fazendo com que volte a realidade.
— Que coisinha linda temos aqui. — o cara afirma e rastreia meu corpo de cima a baixo e sinto um arrepio.
— Serge, ela é linda mesmo. — a mulher do cara confirma — Meus parabéns querida, um presentinho para você.
— Obrigada! — pego o pacote com um sorriso forçado.
— Vamos entrar, o pessoal está na piscina.
O casal segue minha mãe, mas antes o cara dá uma outra checada em mim.
Passo a maior parte da noite andando entre os convidados, fingindo que a festa é para mim, assim que o bolo foi servido corro para meu quarto. Visto minha camisetona de dormir e ligo a televisão, mando uma mensagem para Amanda, nossa governanta.
Eu. “faz pipoca para mim?”
Amanda. “mais uma festa que dispensou o jantar?”
Eu. “kkk sim”
Amanda. “dê dez minutos, estou dando ordens aos garçons, bando de incompetentes."
Eu. ”certo… kkkk”
Momentos depois minha porta é aberta, Serge entra e fecha atrás de si.
— O que está fazendo aqui? — pergunto com medo, há festas em todos os finais de semana em casa e nenhum convidado teve a petulância de subir as escadas para os quartos.
— Vim dar um presente para você. — ele diz se aproximando da cama.
Ao meu lado ele sorri e enfia a mão no bolso, pega uma carteira e estende para mim uma nota de duzentos reais.
— Um troquinho para comprar o que quiser, uma menina linda como você deve ter tudo de melhor.
— Obrigada! — pego o dinheiro e agradeço gaguejando.
Serge sorri, beija meu rosto e sai. Amanda cruza com ele na porta e indaga:
— O que este sujeito estava fazendo aqui?
— Veio dar um presente para mim. — dou de ombros e sacudo a nota que ganhei.
— E por que não entregou lá na festa?
— Sei lá, cadê minha pipoca?
Amanda senta ao meu lado e ficamos comendo pipoca juntas e assistindo a um filme antigo na televisão.
Na próxima semana, Serge e a esposa frequentaram minha casa todos os dias. Sempre que estávamos a sós, ele fazia um carinho ou dava alguma lembrancinha ou ambos.
Com o passar dos dias, os agrados foram aumentando e comecei a estranhar, nem meus pais eram tão atenciosos comigo.
No final de semana seguinte ao do meu aniversário, ao sair do banho enrolada na toalha, dei de cara com Serge sentado em minha cama.
— Saia, por favor! — peço educadamente.
— Não, estou cansado de esperar para receber sua gratidão por tudo que ganhou de mim.
— Não entendo?
Ele se aproxima e descarta a toalha em um movimento rápido.
— O que está fazendo? — questiono enquanto tento me cobrir inutilmente com as mãos.
— Você sabe o que estou fazendo, não se faça de inocente. — ele responde com um sorriso estranho nos lábios — Hoje você será minha.
— Saia, por favor!
Ele ignora pela segunda vez meu pedido e abre seu zíper, põe seu pênis para fora e começa a massageá-lo, começo a procurar uma rota de fuga, mas sou arremessada e imprensada na parede.
— Por favor! — começo a chorar quando ele toca minha entrepernas.
Tento gritar e ele tapa minha boca e penetra seu penis em mim, sinto uma dor lancinante e começo a chorar, quando ele acaba sou solta e escorrego para o chão, abraço minhas pernas ao mesmo tempo que ele arruma seu pau nas calças e Amanda entra no quarto.
— Que porra está acontecendo aqui? — ela grita.
— Nada! — o filho da puta responde com um sorriso de lobo.
Amanda não é uma mulher pequena muito menos delicada, quando ela me vê no chão não pensa duas vezes, dá um soco no cara que perde o equilíbrio e cai no chão. Amanda chama a segurança e vem em minha ajuda.
Em questão de minutos meu quarto é invadido por dezenas de pessoas e ainda estou nua no chão sem forças para qualquer coisa.
— O que está havendo aqui? — meu pai entra bravo.
— Seu convidado estuprou sua filha e eu bati nele! — Amanda grita em resposta.
— Isso é ridículo, está despedida, — minha mãe fala — saia imediatamente da minha casa, sua louca.
— Imagina se um convidado iria fazer isso com Frida. — meu pai afirma e ajuda o cara levantar do chão.
— Pai, ele… — tento dizer que estou machucada e sou interrompida por Serge.
— A culpa foi dela, — Serge se justifica com toda empáfia de caras poderosos — ficou se esfregando em mim todas as vezes que estive aqui e não sou de ferro, você sabe que homens têm suas necessidades.
— Claro meu amigo, vamos descer, espero que esqueça este triste incidente.
— Amanda, amanhã não precisa voltar, entendeu? — minha mãe comunica entredentes à empregada.
— Vocês estão todos loucos? — Amanda grita — Sua filha de doze anos foi estuprada e ficam do lado do filho da puta?
— Se não sair da minha casa agora vou chamar a polícia. — meu pai avisa a ela e leva todos para fora.
Eu e Amanda ficamos sozinhas, ela me conduz ao banheiro e lava meu corpo o melhor pode e vejo sangue descer pelo ralo, desespero-me e grito:
— Estou sangrando, vou morrer!
— Não querida, não vai. — Amanda afirma docemente e acaricia meu rosto.
Ela coloca uma camisola em mim e deita comigo na cama, ainda chorando pergunto:
— O que vou fazer sem você aqui?
No dia seguinte acordo sozinha e apavorada, Amanda deixou um bilhete avisando que foi sem se despedir pois minha mãe a ameaçou por estar dormindo comigo.
Levanto correndo e tranco a porta. Meu pai bate avisando que está na hora da escola, não respondo, se depender de mim nunca mais saio do quarto.
Uma semana trancada no quarto só abrindo a porta para pegar comida e água foi o suficiente para chamar a atenção dos meus pais, que entram com uma cópia da chave que nem sabia existir.
— Que palhaçada é essa de ficar neste quarto? — meu pai grita — Não quer continuar estudando problema seu, só que não vou admitir que desfaça dos nossos amigos, não foi suficiente a vergonha que passamos por ter se atirado em Serge a semana passada?
— Exato, precisa consertar suas asneiras, desça e peça desculpas a ele.
Quando descubro que o cara está na casa, começo a ter um ataque de pânico e desmaio. Acordo em um quarto de hospital sozinha, sozinha não, com um homem sentado na cama ao meu lado.
— Que bom que acordou. — ele fala sorrindo.
Arregalo meus olhos ao perceber que estamos sozinhos e grito tão alto quanto possível.
— Calma, sou seu enfermeiro, Miguel. — ele tenta me acalmar.
Pouco me interessa quem seja, não paro de gritar e me enrolo em mim mesma. Instantes depois várias pessoas entram.
— O que houve, Miguel? — uma senhora entra correndo.
— Acho que se assustou ao me ver.
— Querida, sou a doutora Clarice, por que gritou?
— Ele ia me machucar de novo. — sussurro e me encolho mais.
A médica e o enfermeiro trocam um olhar e ele sai.
— Frida, por que está aqui? — a médica pergunta.
— Não sei, eu acho que desmaiei e acordei aqui.
— Primeiro, Miguel não é perigoso, pode confiar totalmente nele. Segundo, seus pais trouxeram você completamente chapada alegando que quase teve uma overdose com drogas. E por fim, o mais importante, por que achou que seria machucada de novo?
Começo a chorar compulsivamente e a médica tenta se aproximar e não deixo, volto a gritar e ela entende que preciso de espaço. Ao me acalmar conto o que passou comigo no final de semana posterior ao da festa do meu aniversário.
— Frida, querida, estou confusa com sua história, pois em seu cadastro diz que seu aniversário foi há seis meses.