Gula e Poluição ambiental: Mais muito mais (conto by Lela Rago)




Esta história é sobre um planeta onde tudo se resumia em ter, o ser só era respeitado se viesse no meio de coisas supérfluas.

As moradias eram repletas de objetos e restos de comida, pois a gana do ter incluía alimentos em excesso, tanto que era impossível consumir tudo que compravam.

Os seres eram absurdamente obesos e só se moviam com andadores elétricos, semelhantes aqueles infantis que nossas crianças usam quando estão aprendendo a andar, o que dificultava manter as moradias limpas.

Aquela sociedade não se preocupava com o meio ambiente nem com o próximo, eram imediatistas e egocêntricos, incapazes de perceber a aproximação de sua extinção. Sim, este relato refere-se aos últimos dias de uma civilização que teria tudo para ser invejada, mas que acabou caindo na obscuridade por seus atos.

— Falei com a vizinha, ela disse que o trenzinho do mercado tem se atrasado, parece que os entulhos nos trilhos estão atrapalhando a passagem.

— Isso é um absurdo, aqueles robôs da limpeza são muito lerdos. Agora estou ansioso e vou sentir mais fome, como vamos receber nossa comida? Assim que terminar meu lanche da tarde não terei meu jantar, vou morrer de inanição.

— Não se preocupe, sabendo disso, encomendei mais cedo que o normal, assim o jantar chegará na hora certa.

— Até que foi uma boa ideia. Passa o bife, quero rechear meu pão doce.

— Pega você mesmo, estou ocupada comendo.

— Estava pensando, precisamos fazer filhos, os dos nossos vizinhos fazem tudo para eles.

— Uma mulher do serviço disse que engravidar é ótimo, pois a vontade de comer aumenta.

— Sortudas são o que vocês fêmeas são.

— Verdade, somos sim.

Você deve estar se questionando como seres tão obesos seriam capazes de se reproduzir, infelizmente a tecnologia deles estava bastante evoluída e inseminação artificial era mais comum que sexo.

Outro problema que a tecnologia solucionou foi o trabalho, os seres raramente saiam de casa e com isso precisavam de substitutos, assim, cada ser tinha sua cópia robótica na empresa, os seres instruíam seus robôs a fazerem todo tipo de serviço através do computador.

Aos poucos, os robôs foram se desenvolvendo e sem que os seres percebessem o planeta estava sendo administrado pela inteligência artificial.

— Mandem comida, os seres precisam de mais comida.

— Quando vamos sair das sombras?

— Assim que o cometa cair e provocar o tsunami mundial, aquele lixo nas ruas vai invadir as casas e matar os seres, por fim, estaremos livres e poderemos cuidar do planeta sem preocupação.

Isso era o que os robôs esperavam, pois sem a união com os seus seres, não precisariam executar atividades esperadas por eles e tomariam o planeta definitivamente.

O que eles não contavam era com um pequeno desvio do cometa antes de entrar na atmosfera e quando caiu não provocou o tsunami e sim a abertura de uma cratera gigantesca, fazendo com que o núcleo do planeta viesse à tona.

Este fato em si não seria trágico se a natureza estivesse intacta, mas como nem seres nem robôs estavam preocupados com o meio ambiente, quando os componentes do centro do planeta foram expostos a poluição do ar, transformaram-se em uma fumaça densa e ácida que envolveu o exterior e corroeu tanto seres como máquinas, por fim o próprio planeta se dizimou, tornando-se um amontado de nada no cosmo.



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