Dia desses assisti a um programa de calouros que cantavam e tocavam e fiquei chocado com a incapacidade de cada um deles, sei que sou mais capaz que eles e resolvi me inscrever.
Um mês depois, recebi a confirmação da minha participação com o dia que seria ouvido pelos produtores do programa, confesso que não entendi o motivo, não questionei pois no e-mail dizia que era uma mensagem automática para não responder.
Como sou mais esperto que o geral das pessoas, escolhi minha melhor roupa, um conjunto de terno azul claro com camisa branca e sapato branco, separei uma das músicas que compus e dei um trato no meu violão.
No dia agendado, cheguei no estúdio causando inveja em todos, não teve uma pessoa que não comentou meu estilo a boca pequena. Sentei na sala de espera com meu violão descansando na sua caixa e um rapaz perguntou:
— Vai se apresentar assim?
— Claro, um cantor profissional tem que saber se vestir, afinal seu cartão de visita é o visual.
— Se pensa assim quem sou eu para discordar. — ele deu um sorriso de lado e percebi que estava invejoso — Você toca profissionalmente onde?
— Não tenho um lugar fixo, porque sou o mais procurado para apresentações na minha cidade e região.
— Interessante, eu geralmente sou chamado para eventos.
Dei uma olhada nele de cima a baixo e pensei o que aquele besta estava fazendo ali? Resolvi me afastar para não ser taxado de amigo de um perdedor, por sorte fui chamado. A sala era bem grande e os únicos móveis eram cadeiras e mesas onde os produtores se encontravam. Calmamente peguei meu violão amarelo e os cumprimentei:
— Bom dia!
— Bom dia, amigo! — um dos caras disse — Confirme seu nome, por favor!
— Simão Pinto, mas meu nome artístico é Sipi.
Os caras trocaram um sorriso e o cara volta a falar:
— O que vai tocar?
— Uma composição minha.
— Senhor Sipi, não acha que é muito arriscado tocar uma música desconhecida?
— Não, sou mais capaz que a média dos músicos.
Outra troca de olhares e sorrisos, já conquistei a todos, sei que estou no páreo.
— Senhor Sipi, pode nos explicar sua escolha de roupa?
— Queria impressionar.
— E conseguiu. — o cara responde sorrindo — Faça seu show.
Toquei como nunca, os caras estavam elevados com a letra de “Minha Cabrita”, ao final esperei aplausos e não os recebi, então questionei:
— Não gostaram?
— Foi… diferente.
— Diferente é mais que bom, afinal sou exclusivo no que faço.
— Sem dúvidas. — todos caíram na gargalhada e os acompanhei — Senhor Sipi, sinto dizer, mas não teremos como incluí-lo no programa, nossos candidatos são semi-profissionais.
— Ah entendi, tudo bem, então fica para outra vez.
Guardei meu violão e sai, na sala de espera o invejoso perguntou:
— E aí, como foi?
— Recusaram-me, pois só estão dando chance a cantores semi-profissionais.
Em casa, minha família estava me esperando com um churrasco e avisei:
— Galera, não fui escolhido, porque não estão interessados em cantores profissionais.
— Sabia que era perda de tempo, filho, claro que não iriam querer um concorrente tão bom, mas vamos comemorar mesmo assim. — meu pai disse — Sipi, manda ver no som enquanto cuido da carne.
Todos gritaram e nossa festa começou.
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