Nossa história começa com Valentina, uma mãe à beira da morte, fazendo um pedido a sua filha Isabel:
— Filha, você sabe que não tenho uma boa perspectiva de vida e quero que procure seu pai.
— Não diga bobagens, você vai superar isso.
— Não vou e quero que procure seu pai.
— Mãe, ele nunca se interessou por mim, não vai ser agora que vá mudar de ideia.
— Por favor, eu imploro, não posso pensar que quando eu morrer você vai ter que ficar por conta própria.
— Acho que dou conta, você fez um bom serviço ao me criar. — Isa sorri — Não quero que pense em morte, só em se cuidar.
— Mesmo assim, quero que saiba que tem um envelope sob meu colchão com as últimas informações de seu pai, quando eu morrer, promete cumprir meu último pedido?
— Ai, como é teimosa, está certo, eu prometo.
Seis meses depois, Val morre e Isa resolve atender o último pedido dela. Vende os parcos objetos que sua mãe deixou e segue para a capital. Chegando ao endereço indicado, uma loja de roupas sociais de uma marca famosa, há um moço no balcão, Isa solta um suspiro e entra.
— Oi, em que posso ajudá-la?
— Oi, — a garota responde — estou procurando o senhor Jorge Monteiro.
— Pode falar comigo mesmo, resolvo qualquer coisa por ele.
— Agradeço, mas é particular.
— Então pode esperar, ele deve chegar em breve, alí tem um sofá se quiser sentar.
— Obrigada, — ela sorri — você é muito gentil.
Antes de fazer o que o moço disse, Isa dá uma olha em todas prateleiras para ver o que há de interessante e não perde os olhos no moço nela, mas não liga, está acostumada a ser confundida com uma ladra, momentos mais tarde ela ouve:
— Ge, tem visita.
Jorge a encara e pergunta:
— O que quer?
— Oi, sou Isabel Silva. — ela se aproxima com a mão estendida.
— Este nome deveria significar alguma coisa para mim? — o homem pergunta ignorando o cumprimento.
— Sim, — ela abre aquele sorriso — Valentina Silva é minha mãe.
— Sorte sua. — ele responde rudemente.
— Sou a filha dos dois. — ela afirma com um sorriso trêmulo.
— Está doida, moça? Não tenho filhos.
— Tem a mim, espera, minha mãe deixou uma carta.
Ela vasculha sua bolsa e encontra o envelope pardo e entrega a ele, mas Jorge diz:
— Não tenho e não quero filhos, então saia daqui, caso contrário chamo a polícia.
— Mas minha mã…
— Mandei sumir! — ele grita.
— Ge, calma, cara! — o moço intercede — Dá uma chance para ela.
— Não vou dar nada a ninguém. Toma o rumo de onde veio, garota, e não precisa pensar em voltar.
Isabel dá um sorriso triste e diz:
— Falei para mãe que não queria conhecê-lo, pelo menos cumpri minha obrigação.
Ela pega suas coisas, deixa o envelope sobre o balcão e sai.
— Que porra chefe, nunca vi o senhor tratar um cara desta forma muito menos uma garota.
— Que se foda, viu as roupas dela? Nunca teria uma filha com uma pobretona.
— Não vai nem ler a carta?
— Leia você já que está curioso.
O moço lê e descobre de quem era e corre para contar a seu patrão:
— Jorge, aqui diz que ela é filha da Val, sua antiga amante.
— Não pode ser, ela me conhecia bem, se tivéssemos uma filha, sabia que eu nunca reconheceria a menina.
— Segundo a carta, a mulher morreu e pede para você cuidar de Isabel por ter ficado sozinha no mundo.
— Val morreu? — Ge sussurra.
— Quem morreu, querido? — Carlota, irmã de Jorge, entra na loja.
— Val e para complicar as coisas mandou uma suposta filha para eu cuidar.
— Como assim? O que a sociedade vai dizer ao saber que tem uma filha… pobre? — Carli questiona horrorizada.
— Ninguém vai saber, pois coloquei a talzinha para correr.
— Vocês dois são terríveis, — o rapaz entra na conversa enojado — a pobrezinha não tem grana nem família e estão preocupados com aparências?
— Duke, cala sua boca, caso contrário o ponho na rua! — Jorge grita.
Enquanto esta conversa acontece, Isabel, vaga pelas ruas até encontrar uma praça e sentar ali pensando no que vai fazer da vida. Ela nunca poderia imaginar que sua mãe havia tido um caso com um cara rico e esnobe.
A noite cair e um ar frio chega com ela, Isa tenta de todas as formas encontrar um abrigo sem sucesso é quando ela vê um beco e se esconde nele, momentos depois um cara com roupas brancas pergunta:
— Que porra está fazendo aqui?
— Tentando me abrigar do frio.
— Suma daqui, esta é uma propriedade particular! — ele grita.
— Por favor, estou com frio. — ela implora.
— Saia! — ele volta a gritar e a ameaça com um rolo para as massas.
Ela corre para rua e vaga sem rumo.
No dia seguinte, na primeira página dos jornais locais on-line há uma reportagem sobre todos os andarilhos que faleceram congelados pela noite extremamente fria, é quando Jorge reconhece Isabel e sorri pensando que mais uma vez o destino foi muito bom com ele, afinal o livrou de mais um filho indesejado de suas amantes secretas.
Ele desliga o celular quando a nova empregada contratada pela mãe entra na sala de jantar e a encara com um sorriso de lobo de cima a baixo avaliando que ela é bem gostosinha.
— Oi, docinho, tem compromisso para hoje à noite?