Avareza: Paguei é meu (conto by Lela Rago)




Sou rico, rico não, bilionário, como consegui meu capital? Com muita luta e suor dos meus funcionários, um bando de perdedores que tinham que trabalhar horas seguidas por alguns trocados enquanto eu enchia meus cofres.

Com o que ganhei pude comprar tudo, desde objetos até pessoas, pessoas estas que contribuíram para eu adquirir mais grana. Já ouviu que dinheiro atrai mais dinheiro? É isso aí, gastava cem para receber cem mil em troca.

Nunca me preocupei com herdeiros até ler um artigo na mídia dizendo que pessoas sem descendência tinham o capital transferido ao governo após a morte do último da família.

Fiquei indignado, pois seria meu caso e não iria permitir que um bando de políticos colocassem as mãos no que era meu.

Arrumei uma idiota e casei, claro que exigi um contrato pré-nupcial em que ela nunca teria nada meu, apenas uma mesada para gastos pessoais e, como sou muito magnânimo, seria o responsável pelos gastos da casa, em cinco anos tivemos dois filhos.

Quando meus herdeiros começaram a entender que para ter coisas precisariam usar meu dinheiro, ensinei que eles teriam que se virar sozinhos para conseguí-lo.

Minha esposa com sua mesada supria nossos filhos sugadores, que sempre estavam querendo coisas como sorvete, doces, bicicletas, sapatos, etc.

Na adolescência deles os levei para trabalhar em minha empresa no cargo mais baixo de todos, imagina que os colocaria na administração, alí, só eu.

Não entendi com que dinheiro eles foram para faculdade e saíram de casa. Investiguei de onde roubaram o capital para isso acontecer e descobri que conseguiram com o seu trabalho. Fiquei orgulhoso deles pela primeira e única vez.

Com o passar dos anos, a idiota da minha esposa pediu divorcio e para minha minha surpresa logo depois se casou com nosso ex motorista, foi quando a suspeita surgiu em minha mente, os meus herdeiros filhos da puta não eram meus e os deserdei. O mais curioso foi que nem se importaram.

A velhice me atingiu e com ela cai de cama, os filhos da minha mulher vieram se oferecer para cuidar de mim e achei justo, afinal gastei muito com aqueles bastardos.

Um dia, meu ex motorista apareceu e disse que nunca teve filhos por ser estéril, não acreditei no exame que ele me mostrou, era um subterfúgio para mudar minha decisão e dar minha herança aos filhos dele.

Assim, os impedi de continuar indo em casa, não queria correr o risco de ter algum pertence roubado por eles.

Uma ideia se infiltrou e comecei a vender todas as obras de arte e objetos de valor que tinha em casa, mandei transformar um dos quartos em uma espécie de armário gigante com várias prateleiras e o dinheiro que recebia pelas vendas colocava lá dentro.

Resolvi que todo meu capital deveria estar guardado alí, com isso vendi a empresa e saquei o que havia em minhas contas bancárias.

Passava meus dias contando meus lucros ou passeando com minha cadeira de rodas entre as prateleiras, o cheiro do dinheiro me revitalizava.

Como o quarto não era um cofre, fiquei preocupado com os funcionários da casa e os demiti.

Estando sozinho e doente, logo a natureza começou a dominar meu imóvel, quem reclamava eram os entregadores de comida, grandes ingratos, afinal eu os sustentava.

Um dia decidi que estava na hora de parar de sentir medo de perder meu suado dinheiro e resolvi queimá-lo, como consequência, acabei caindo da cadeira e pondo fogo na minha própria cama, minha casa foi invadida por policiais e bombeiros, até os filhos da minha ex surgiram.

Fui internado e tratado, quando recebi alta descobri que os tais filhos provaram na justiça que eram meus herdeiros de sangue e me interditaram.

Agora estou vivendo em uma clínica, no início achava ruim e gritava por ter sido roubado, então os filhos resolveram me entregar várias caixa de dinheiro para mim, assim passo meus dias contato para confirmar se não falta nada.

— Não se aproximem do meu dinheiro seus sugadores, se faltar um centavo, processo todos vocês. — grito quando os enfermeiros entram.

— Ele não vê que é dinheiro falso?

— Não, é tão perturbado que não é capaz de enxergar a verdade. Senhor, não queremos seu dinheiro, só viemos dar seus remédios.

— Ótimo, se paguei é meu, então os dê logo! — respondo satisfeito por continuar ganhando mais e mais…



Meus livros de contos podem ser adquiridos através do site da Amazon

Visite meu blog onde encontra tudo sobre meus livros Lela Rago