– Falei para sairmos mais cedo! – ela reclama.
– Como sempre a sabe tudo! – ele responde.
– E estava errada?
– Quando vai parar de ser tão exigente e chata? Poderíamos ter saído depois da chuva.
– Não seja ridículo, não suportaria ficar por mais tempo com aquele bando de imbecis dos seus amigos.
– Agora são meus amigos, não me lembro de tê-los apresentado a você e sim o contrário.
– Cale sua boca.
– Merda.
– O que foi?
– O carro está com um barulho estranho, vamos ter que parar no próximo posto.
– Maldição, ainda bem que depois desta ponte há um.
– Eu disse para esperar a maldita chuva parar.
– Quem está sendo espertinho agora?
– Porra, não para, não para, caralho! – ele grita.
– Era só o que faltava, vou ligar para o guincho. Merda, estou sem sinal!
– Eu também, que ótimo, poderia estar assistindo ao futebol com os caras ao invés de preso com você no meio do nada e sem ter como usar o celular.
– Nossa, você é tão doce!
– Arrume outro, querida.
– Cala a boca, que barulho foi esse?
– Você enchendo meu saco.
– Mandei calar a boca, merda! – ela exclama.
– Porra, olhe o rio, de onde está vindo tanta água?
– Deus, precisamos sair daqui.
– Vamos ter que correr para chegar à terra firme, caralho de carro tinha que parar bem no meio desta porra de ponte?
– Dê sua mão, estou com medo. – ela diz enquanto correm para fugir de uma enxurrada que desce o rio e que vai provocar um enorme alagamento na região.
Infelizmente não são rápidos o suficiente e são lambidos pelas águas, cada um em seu desespero em se manter vivo esquece do outro, ele consegue agarrar a um galho e com muito esforço senta a cavalo nele, estando seguro vasculha o rio em busca da esposa e a vê segurando sua vida por um fino galho a poucos metros de onde ele está.
– Querida, fique calma, vou ficar de cabeça para baixo onde estou e você solta o galho, assim que a correnteza a trouxer para perto de mim eu a seguro.
– Não, não vou conseguir.
Ele a ignora e faz o que disse, cruza as pernas no galho e em um movimento fica de cabeça para baixo e suas mãos roçando as águas, olha a esposa com a mão estendida:
– Vem, por favor, confie em mim.
– Eu confio, mas tenho medo. – ela choraminga.
– Não posso perdê-la, então solta o galho.
Ela analisa sua situação por um tempo e percebe que o galho onde está segurando é muito frágil e com seu peso mais a força das águas logo vai se romper assim ela diz:
– Vou me soltar, como não sei se vai dar certo, quero que saiba que eu o amo.
– Também a amo. – ele responde sorrindo.
Neste exato momento o galho onde ela está se quebra o que impossibilita qualquer preparo por parte dos dois, assim de improviso ela deixa seu corpo ser arrastado e ao passar por seu marido é salva por seus braços.
Trocando um olhar, ambos começam a rir e ele diz:
– Querida agora é com você, escale meu corpo e sente no galho, depois volto a minha posição inicial.
Mas o que parecia uma coisa fácil tornou-se um segundo pesadelo, pois ambos estavam escorregadios por estarem molhados e a cada tentativa ela voltava a escorregar, percebendo que ela estava desistindo, o marido numa atitude arriscada, usa seu corpo com balanço e arremessa a esposa para o galho, ela se segura como pode enquanto ele volta a sentar a cavalo no galho e a puxa para seus braços.
– Achei que fosse me soltar! – ela exclama chorando.
– Nunca.
Ficam assim por um momento, até ela pedir:
– Desculpe por estar sendo não chata atualmente, queria parar de vir ver nossos amigos, é uma viagem tão longa para nada. Há dias que acho que eu amadureci e eles não.
– Amor, nunca gostei deles, mas não queria contrariar você, pois gostava de estar nestas festas.
– Sério?
– Sério. – ele responde sorrindo.
Aconchegados ela começa a gargalhar:
– Como vamos sair daqui?
– Não faço a mínima ideia. – ele responde e a acompanha na risada – Lembra quando fomos àquela maldita execução e tivemos que voltar a pé por que o filho da puta do guia estava muito bêbado para lembrar-se de contar quem estava no ônibus?
– Ai, nem lembra, queria furar os dois olhos dele.
– Pelo menos o dono da agência deu mais dois dias de graça, para compensar.
– Sim, – ela ri – foi a única vantagem pelas bolhas nos pés.
– Estava pensando, poderíamos planejar um aumento na família.
– Jura? Achei que não quisesse filhos.
– Não queria, agora quero, depois de hoje, percebi que a vida é imprevisível.
– Eu topo, minha mãe vai enlouquecer.
– Você quer dizer que nossas mães vão enlouquecer. – ele ri, no segundo seguinte para e pergunta em desespero – Porra, você sentiu isso?
– Sim – ela grita – não se mexa que nosso galho está cedendo…