– Oi!
– Oi.
– O que está acontecendo lá?
– Não sei, acabei de chegar também.
– Sou Tomas.
– Sou Alicia. Não sei você, mas estou me sentindo tão leve.
– Agora que mencionou, eu também.
– O que é este nevoeiro?
– Não é nevoeiro, já estive em um e não é nada parecido com isto.
– Eu deveria ter medo do desconhecido e, pelo contrário, estou feliz.
– Não sei o que é felicidade, minha vida sempre foi uma loucura, correndo atrás para poder terminar o mês sem dívidas.
– Nunca me preocupei com isso, meu pai que cuidava de todos.
– Por que estamos falando no passado?
– Nem havia percebido. kkkk
– Você tem um relacionamento?
– Não, e você?
– Tive uma namorada que me deu o pé na bunda por um cara rico, ela dizia que eu não fazia o suficiente para nós dois.
– Que pessoa horrível, se eu gostasse do meu namorado, não me importaria em ajudá-lo com as contas da casa.
– E o que faria? Disse que era sustentada por seu papai.
– Não seja cruel, eu trabalhava, só não precisava sustentar a casa.
– Desculpe, tê-la chateado, estou confuso, geralmente não trato tão mal as pessoas.
– Vamos sentar naquela pedra?
– De onde ela apareceu?
– Não tenho ideia, só pensei que queria sentar e a enxerguei.
– Uau, vou tentar, eu quero o prato do dia do restaurante do centro! Veja Alicia, tem para você também.
– Incrível, este lugar é mágico, kkkk, vamos comer.
– Percebeu que a confusão acabou?
– Sim, exceto a fumaça.
– Onde será que estamos?
– Não sei nem como chegamos, quanto mais onde estamos.
– Onde estava antes de nos encontrar?
– Acho que dirigindo.
– Tenho essa lembrança, mas não estava ao volante, parece que estava indo ou voltando de uma festa.
– Eu estava voltando para casa, havia ido ao shopping comprar… esqueci.
– Havia um caminhão ele… Deus, acho que ele invadiu nossa pista.
– Tomas, você está querendo dizer que sofremos um acidente?
– Exato e penso que não sobrevivemos.
– Não está correto, alguma coisa teria acontecido.
– Como o que?
– Talvez um anjo nos conduzindo ao céu?
– Seria engraçado que fosse o anjo Lúcifer.
– Vamos mudar de assunto, queria um jornal que contasse os fatos reais.
– Caralho!
– Confesso que estou com medo de tocar nele, não é normal as coisas se materializarem em nossa frente só por pedir.
– Vou procurar alguma coisa nele, fica calma.
“Motorista de um rebocador, dorme ao volante e invade pista contrária batendo em dois carros. Os passageiros dos carros foram socorridos e conduzidos ao hospital, dois deles estão em coma. Os médicos ainda não sabem se o coma será reversível ou não, já que foram os mais afetados com a pancada.”
– Estamos em coma? Meus pais devem estar apavorados.
– Em meu caso, imagino que nem vão se importar, afinal se eu morrer não vou deixar nada de bom a eles.
– Tomas, não fale assim.
– Minha família não é o melhor exemplo de união.
– Tenha certeza, quando sairmos dessa, vou ter uma conversa séria com eles.
– Alicia, acho que descobri sua profissão: advogada. kkkk
– Errou, na verdade era bailarina.
– Eu trabalhava em dois empregos, durante o dia era vendedor em uma loja, à noite era entregador.
– Sua família devia se orgulhar por ter um filho tão esforçado.
– Não os via há anos.
– Ai!
– O que foi?
– Senti uma fisgada no peito!
– Eu estou bem.
– Licença, são Tomas e Alicia?
– S… sim.
– É que meu registro diz.
– Ah, fui avisado que meu companheiro era piadista, vamos, vim buscá-lo.
– Nós dois morremos?
– Não Alícia, só o Tomas, ele cumpriu sua obrigação na Terra e chegou a hora dele descansar.
– E eu?
– Querida, não se desespere, quando acordar terá muito trabalho para voltar a ser quem era.
– O que quer dizer? Espera, não me deixem aqui sozinha, Tomas! Alguém… ai não quero sentir mais dor… aaaaaaii…
***
– Filha que bom que voltou.
– O que houve, mamãe?
– Um acidente, mas fique tranquila, tudo vai ficar bem.
– Exato eu e sua mãe cuidaremos de você.
– Não entendo! Espera momento… onde estão minhas pernas?