Coma (conto by Lela Rago)



– Oi!

– Oi.

– O que está acontecendo lá?

– Não sei, acabei de chegar também.

– Sou Tomas.

– Sou Alicia. Não sei você, mas estou me sentindo tão leve.

– Agora que mencionou, eu também.

– O que é este nevoeiro?

– Não é nevoeiro, já estive em um e não é nada parecido com isto.

– Eu deveria ter medo do desconhecido e, pelo contrário, estou feliz.

– Não sei o que é felicidade, minha vida sempre foi uma loucura, correndo atrás para poder terminar o mês sem dívidas.

– Nunca me preocupei com isso, meu pai que cuidava de todos.

– Por que estamos falando no passado?

– Nem havia percebido. kkkk

– Você tem um relacionamento?

– Não, e você?

– Tive uma namorada que me deu o pé na bunda por um cara rico, ela dizia que eu não fazia o suficiente para nós dois.

– Que pessoa horrível, se eu gostasse do meu namorado, não me importaria em ajudá-lo com as contas da casa.

– E o que faria? Disse que era sustentada por seu papai.

– Não seja cruel, eu trabalhava, só não precisava sustentar a casa.

– Desculpe, tê-la chateado, estou confuso, geralmente não trato tão mal as pessoas.

– Vamos sentar naquela pedra?

– De onde ela apareceu?

– Não tenho ideia, só pensei que queria sentar e a enxerguei.

– Uau, vou tentar, eu quero o prato do dia do restaurante do centro! Veja Alicia, tem para você também.

– Incrível, este lugar é mágico, kkkk, vamos comer.

– Percebeu que a confusão acabou?

– Sim, exceto a fumaça.

– Onde será que estamos?

– Não sei nem como chegamos, quanto mais onde estamos.

– Onde estava antes de nos encontrar?

– Acho que dirigindo.

– Tenho essa lembrança, mas não estava ao volante, parece que estava indo ou voltando de uma festa.

– Eu estava voltando para casa, havia ido ao shopping comprar… esqueci.

– Havia um caminhão ele… Deus, acho que ele invadiu nossa pista.

– Tomas, você está querendo dizer que sofremos um acidente?

– Exato e penso que não sobrevivemos.

– Não está correto, alguma coisa teria acontecido.

– Como o que?

– Talvez um anjo nos conduzindo ao céu?

– Seria engraçado que fosse o anjo Lúcifer.

– Vamos mudar de assunto, queria um jornal que contasse os fatos reais.

– Caralho!

– Confesso que estou com medo de tocar nele, não é normal as coisas se materializarem em nossa frente só por pedir.

– Vou procurar alguma coisa nele, fica calma.

“Motorista de um rebocador, dorme ao volante e invade pista contrária batendo em dois carros. Os passageiros dos carros foram socorridos e conduzidos ao hospital, dois deles estão em coma. Os médicos ainda não sabem se o coma será reversível ou não, já que foram os mais afetados com a pancada.”

– Estamos em coma? Meus pais devem estar apavorados.

– Em meu caso, imagino que nem vão se importar, afinal se eu morrer não vou deixar nada de bom a eles.

– Tomas, não fale assim.

– Minha família não é o melhor exemplo de união.

– Tenha certeza, quando sairmos dessa, vou ter uma conversa séria com eles.

– Alicia, acho que descobri sua profissão: advogada. kkkk

– Errou, na verdade era bailarina.

– Eu trabalhava em dois empregos, durante o dia era vendedor em uma loja, à noite era entregador.

– Sua família devia se orgulhar por ter um filho tão esforçado.

– Não os via há anos.

– Ai!

– O que foi?

– Senti uma fisgada no peito!

– Eu estou bem.

– Licença, são Tomas e Alicia?

– S… sim.

– É que meu registro diz.

– Ah, fui avisado que meu companheiro era piadista, vamos, vim buscá-lo.

– Nós dois morremos?

– Não Alícia, só o Tomas, ele cumpriu sua obrigação na Terra e chegou a hora dele descansar.

– E eu?

– Querida, não se desespere, quando acordar terá muito trabalho para voltar a ser quem era.

– O que quer dizer? Espera, não me deixem aqui sozinha, Tomas! Alguém… ai não quero sentir mais dor… aaaaaaii…


***


– Filha que bom que voltou.

– O que houve, mamãe?

– Um acidente, mas fique tranquila, tudo vai ficar bem.

– Exato eu e sua mãe cuidaremos de você.

– Não entendo! Espera momento… onde estão minhas pernas?



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