Visionário (conto by Lela Rago)



“E com vocês nossa estrela do momento… Ben Smith e banda.” – grita do palco o dono da maior casa de show de São Francisco e o grande responsável por estar onde estou hoje.

“Boa noite Tony, é um prazer voltar aqui e cantar para você e esta plateia fantástica.” – digo.

É incrível ser reconhecido depois de todos esses anos. Meus amigos e família zombavam de mim por acreditar que teria um grande futuro no show business. Sempre soube que conseguiria, eu e minha banda somos os melhores de todos os tempos, não tinha como ser diferente.

A música entrou em minha vida quando criança e ganhei um violão do meu avô, fiquei encantado e comecei a tomar aulas, em pouco tempo já era um prodígio. Minha professora deve estar orgulhosa, ela foi uma das poucas pessoas que acreditaram em mim.

Meus pais diziam que a música tinha que estar entre meus hobbies, pois ninguém ganhava a vida com ela, desde cedo brigava com eles alegando estarem equivocados. Hoje, reconhecem seu erro e aproveitam dos ganhos comigo, com meu primeiro milhão comprei uma mansão para os dois.

Desde a adolescência trabalhava, todos os dias da semana, como barman em um pub na minha cidade e nos fins de semana eu e os rapazes tocávamos em lugares simples. Quando o pub fechou, vim pedir um emprego aqui nesta casa de show e Tony confiou em mim e me contratou como barman.

Trabalhar aqui foi um sonho, tive a oportunidade de conhecer vários cantores famosos, sem falar que as pessoas que frequentavam o lugar eram bem mais abastadas e davam gorjetas bem gordas.

Minha vida começou a mudar quando o cantor fixo do lugar faltou e Tony me mandou ir para o palco, liguei na mesma hora para minha banda e em questão de trinta minutos estávamos sendo aclamados pelos frequentadores do lugar.

No início mantive meu emprego e nos fins de semana tocávamos cada vez em um lugar diferente e melhor. Num repente uma rede de televisão veio nos pedir para dar uma palinha em um programa de auditório, depois foi a vez de outra e assim sucessivamente, atualmente temos que recusar vários convites por falta de tempo. Temos shows marcados por todo mundo, confesso que tem sido cansativo, porém não reclamo, pois estou realizando meu sonho.

Outra vantagem foram as mulheres, antes do sucesso era uma dificuldade arrumar uma garota para sair, depois da fama tenho todas as que eu quiser, bastando estalar os dedos. Claro que a plástica que fiz para diminuir minhas orelhas e nariz, aumentar meu maxilar e fazer uma lipoaspiração abdominal, mais o aparelho que usei escondido para arrumar os dentes tortos ajudaram um pouquinho.

Após a apresentação, descemos do palco para uma interação com o público, tirando fotos e distribuindo autógrafos, esta é a melhor parte de minha nova carreira, eu e os rapazes gostamos desta troca de energia com nossos fãs.

Quando voltamos ao hotel, duas gatas vieram ficar comigo, no quarto elas arrancaram minha roupa e fizeram com que deitasse na cama para assistir ao show delas, colocaram uma música minha e começaram a dançar e fazer um striptese, estando ambas nuas, iniciaram sua aproximação como gato sobre mim, lentamente e lambendo seus deliciosos lábios e ouço:

– Acorde Dito, o Zé chegou, vai pegar a pinga dele.

Caralho que susto, acho que cochilei no serviço de novo, merda, no melhor do sonho, ranzinza questiono:

– Que droga, Tonho, não somos o único boteco da cidade, por que aquele velho tem que vir sempre aqui? Depois tenho que ficar limpando o vômito dele na calçada.

– Porque adora ser servido pelo cantor mais famoso de São Francisco, interior de São Paulo… senhor Benedito Silva. – ele fala como apresentador de programa de auditório.

Suspiro e vou servir a pinga ao Zé, um dia isso vai acabar e serei rico o suficiente para comprar esta cidade toda…




Meus livros de contos podem ser adquiridos através do site da Amazon

Visite meu blog onde encontra tudo sobre meus livros Lela Rago