– Oi, por que não aceitou sair com nenhum dos caras que vieram falar com você?
– E devo responder a isso, porquê?
– Porque sou especial, kkkk.
– Senhor Especial vá cuidar da sua vida, não quero me envolver com ninguém para não sofrer no futuro.
– Quem garante que vou fazê-la sofrer?
– Minha história de vida.
– Muito nova para dizer isso.
– As aparências enganam.
– Peço uma chance, tenho acompanhado suas visitas ao rochedo há muito tempo, estou realmente interessado em você.
– Se eu fizer isso mais uma vez vou voltar a me arrepender.
– Não entendi.
– Esquece.
– Certo, sou Aguilar.
– Eu sei, sou Fenícia.
– Fenícia, prometo que vou fazê-la feliz.
E assim foi por setenta e cinco anos, no jantar das bodas de brilhante Aguilar relembra sua primeira conversa com a esposa.
– Viu, meu amor, não a fiz sofrer, só sinto que não tenhamos tido filhos.
– Aguilar, você sabe que estou muito doente.
– Estamos juntos a todo momento, claro que sei e sei também que quando você se for sofrerei bastante.
– Está na hora de contar quem sou, meu amor, meu eterno amor. Aguilar, já vivemos nosso amor uma dezena de vezes ao longo dos milênios e a cada uma dói mais, pois demoram anos para nos reencontrar.
– Fenícia estou confuso, nunca soube que era sensitiva.
– Não sou, deixe-me terminar, por favor. Eu nasci no ano de 2005 a.C., não se assuste, não estou louca, na verdade não sou humana, meu amor.
“Sou uma descendente Foinix, viemos de um planeta muito remoto na era do Antigo Egito, meu povo quem construiu as grandes pirâmides que foram nosso pagamento aos antigos reis para nos deixar em paz na Terra, pois nosso planeta havia sido destruído por uma chuva de meteoros.
Com o passar dos anos e as grandes navegações nos separamos para viver nossas vidas, pois não queríamos procriar, nossa existência é muito triste para desejar o mesmo para nossos filhos. Meu amor, só posso ter descendentes com outro da minha espécie, desculpa.”
– Fenícia, acho que estou muito velho, não consigo entender sua história.
– Aguilar, o que estou tentando dizer é que sou uma fênix, eu não morro, isso vai acontecer eventualmente, mas num futuro bem distante.
– Aquela fênix que se queima e renasce?
– Exato, minha doença na verdade é que está chegando minha hora.
– Não, não pode, quem vai cuidar de minha Fenícia criança?
– Tenho tudo organizado em um bunke em nosso quintal, nós fênix crescemos mais rápido que crianças humanas e nossas memórias ficam intactas.
– Temos um bunke em nosso quintal?
– Sim, foi por isso que fiz tanta questão de morar nas antigas terras da minha família.
– Quer dizer nas suas terras?
– Sim, amanhã cedo vou mostrá-lo, será onde deverei ser deixada na hora certa, ele está repleto de alimentos e tudo mais que necessitarei até minha maioridade.
– Quando nos encontramos fazia quanto tempo que havia renascido?
– Cinco anos, gostava do rochedo para recompor minha cor, viver tanto tempo sob a terra deixa-me com uma cor anormal.
– Uau, quer dizer que vou ter que assistir ao amor da minha vida queimar até a morte e você que tinha medo de sofrer?
– Aguilar, não vou morrer, você vai e com isso vou lembrar de tudo o que vivemos, é uma vida de dor e saudade.
Ele a abraça e ambos choram.
– Não quero ficar sozinho e não quero deixá-la sozinha.
– Há um meio de evitar nossa separação, pois além de sermos almas gêmeas desde a antiguidade, você é descendente dos Orn, meu amor.
– O que é isso?
– Foi uma geração de guerreiros vikings que se auto denominavam águias, era uma tribo com vida longeva e extremamente corajosa que habitou nos Países Nórdicos.
– Isso é fantástico, quer dizer que temos a possibilidade de continuarmos juntos, então quero saber o que fazer.
– Você precisa queimar comigo.
– Só isso?
– Aguilar é muita dor, eu estou acostumada, pra você será alucinante.
– Quantas vezes fiquei sabendo isso tudo?
– Dezenas delas.
– E não consegui fazer a transição?
– Nunca cogitou em fazê-la.
– Que maldito covarde fui no passado?
– Quer dizer que você vai queimar comigo?
– Claro, o que vou fazer sozinho neste mundo?
Em milênios foi a primeira vez que ela sentiu a esperança de viver na felicidade, mesmo assim ela o advertiu:
– Antes de qualquer coisa, precisa saber que sua vida ficará ligada à minha, isto significa que quando minha existência chegar ao final a sua também chegará.
– Vou crescer no mesmo intervalo de tempo que você?
– Sim.
– Minha memória ficará com tudo o que sei hoje?
– Vai.
– Então vou ser um maldito sábio, kkkk?
– Quase isso meu amor, kkkk.
Ele a abraça e beija seus lábios. No dia seguinte ele conheceu sua futura morada, aproveitaram para abastecer com mais alimentos para que fosse o suficiente para ambos.
Alguns dias depois, Fenícia começa a passar mal e o casal corre para lacrar a casa e se confinar no bunker. Quando a hora chega, ela senta no meio de um ninho feito com ramos de canela, sálvia e mirra e avisa:
– Você precisa sentar ao meu lado assim que estiver em chamas.
Ele concorda com a cabeça, mas com um medo sem precedentes e começa a questionar sua decisão, afinal que tipo de pessoa conscientemente pula em uma fogueira. O tumulto interno é muito grande, razão e emoção entram em uma luta ferrenha e quem ganha é a razão fazendo com que ele resolva mudar de ideia e sair daquele lugar.
Aguilar corre para porta e com a mão na maçaneta olha para sua esposa que começa entrar em combustão, ela está sorrindo pra ele com lágrimas descendo dos olhos, neste nanosegundo o coração aperta e ele corre para abraçá-la.
As chamas começam a envolvê-lo, a dor é horrível, ele trava seu olhar com o de Fenícia, é seu único consolo, minutos depois com 90% do seu corpo com queimaduras do 3º grau ele não sente mais nada, a seguir ambos caem em um sono anormal.
Na manhã seguinte ela acorda e é uma criança de aproximadamente cinco anos terrestres, limpa os restos das suas cinzas no chão e prepara um alimento. Senta ao lado do corpo inerte de um menino, seu Orn, a primeira águia que aceitou sua fênix, ao abrir os olhos ele diz com tristeza:
– Eu vacilei.
– Não importa, estou feliz que tenha reconsiderado.
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