Playboy (conto by Lela Rago)



Sou o que chamam de playboy, o cara rico que não tem preocupação na vida, a não ser aproveitá-la ao máximo.

Tenho mais dinheiro do que posso gastar em cem anos, assim compro de tudo, desde coisas até pessoas e o faço sem moderação.

Dentre as pessoas estão as mulheres que fazem qualquer coisa para estar comigo, na maioria são modelos no início da carreira e querem crescer neste meio e pensam que serem vistas comigo as ajudará.

Não sou o completo idiota que está pensando, quando me canso da garota termino e dou um belo colar de diamantes, se a carreira não frutificar ela pode vender e viver do meu presente.

Foi assim por anos, até conhecê-la, uma morena linda de cabelos castanhos e olhos caramelos, um narizinho perfeitamente esculpido, assim como o corpo. Ela foi a única que coloquei dentro de casa, ficamos juntos por quase um ano.

A relação estava me exasperando e resolvi terminar, quando cheguei em casa ela estava radiante dizendo que tinha uma novidade, eu a interrompi e falei que nosso relacionamento não estava dando certo, que tinha um encontro para o jantar e que quando voltasse não a queria vê-la.

Em resposta, ela abraçou sua barriga e concordou com a cabeça, esta era umas das suas virtudes, não se queixar ou aprontar escândalos, após este dia não a vi mais.

Cinco anos depois ela aparece em minha empresa com hora marcada, quando vejo seu nome em minha agenda acho graça, pois nenhuma das minhas mulheres se atreveu a aparecer aqui. Quando ela chega minha secretária a coloca para dentro e questiono com sarcasmo:

– O dinheiro que depositei em sua conta quando saiu acabou?

Ela se encolhe, como se eu a tivesse atingido, fazendo sentir em mim sua dor, que porra.

– Desculpa incomodar, estou morrendo e preci…

Como assim, está morrendo, esta informação me chocou mais do que poderia esperar, afinal foi a única que dividi minha vida por um tempo, ela continua falando sem que tenha ouvido qualquer coisa.

– Espere, estou perdido aqui, por que vai morrer?

– Tenho um câncer e os médicos disseram que não há mais nada a ser feito. Quando nos conhecemos estava em remissão, infelizmente ele voltou com violência e preciso que cuide dele por mim, não pediria isso se houvesse outro jeito.

– Cuidar de que, do seu câncer?

Ela se espanta e pergunta:

– Não ouviu o que disse antes?

– Não.

Soltando um suspiro diz:

– Temos um filho, no dia que você me afastou da sua vida ia contar sobre minha gravidez, contudo não tive a chance.

– Isso é impossível! – grito – Sempre uso preservativo.

– Não comigo, porém isso não vem ao caso, preciso que cuide dele, não tenho ninguém que possa fazê-lo, ou você é tão insensível que prefere ver seu filho sendo entregue a adoção.

– Isso é loucura, vou exigir um exame de paternidade! – grito novamente, ficando de pé.

– Marque o dia e a hora, estaremos lá. – ela coloca um papel com endereço em minha mesa e sai.

Caio sentado e ligo para meu advogado, quando o filho da puta se inteira das novidades cai na risada e afirma:

– Demorou muito para acontecer.

A próxima vez que a vi foi na audiência, serena e linda e muito magra, como não reparei nisso aquele dia em minha sala, o juiz interrompe minha análise e afirma que o garoto é meu, ela dá um sorriso doce e afirma:

– Nosso filho está ansioso para conhecê-lo.

No dia marcado vejo o garoto pela primeira vez, que é muito parecido com a mãe, no comportamento principalmente, e parece com medo de mim, um absurdo.

– Filho, fale oi para o papai. – ela diz docemente.

O menino sai de trás dela e estende uma folha de papel, com três pessoas, toscamente, desenhadas nela.

– Fiz um retrato de você, da mamãe e de mim.

Olho divertido e pronto para soltar uma gozação, reparo que ela está de cara fechada e negando com a cabeça, não sabia que ela me conhecia tão bem, sem soltar um som ela diz, ‘elogie’, não tenho hábito de mentir, mas é uma criança, então:

– Puxa que bonito.

Ele abre um sorriso igual ao da mãe e meu coração dá um pulo, que porra está acontecendo comigo? Respiro fundo e afirmo:

– Quero os dois em minha casa a partir de hoje.

Ambos se espantam e esclareço:

– Será mais fácil para nos aproximar.

Como sempre ela concorda e se muda de volta para minha casa, ao chegar fico chocado com a recepção que meus funcionários dão a ela, não sabia que era querida por eles.

Nos primeiros dias não mudo minha rotina, com o passar do tempo começo a chegar mais cedo para conversar, preciso saber tudo sobre o menino, pois ela não estará aqui para sempre.

Num determinado momento, não sei dizer ao certo, parei com minhas noitadas e comecei a sair da empresa no meio da tarde para voltar para casa e ficar com ela e o garoto. Foi um bom tempo, até ela cair doente. Para o bem dela e minha tristeza sua morte chegou rápido.

Eu e o garoto começamos nossa vida de forma bem difícil, não sabíamos lidar com a perda, muito menos com a presença um do outro. Contratei uma babá em tempo integral e voltei para minha antiga vida.

Tive que fazer uma viagem a negócios e quando voltei minha casa estava repleta de policiais, meu jardineiro conversando com eles e minhas empregadas abraçadas chorando. A babá me vê, vem correndo e se justificando que se distraiu um momento e meu filho sumiu.

Sinto um peso no peito, não posso ter perdido a segunda pessoa que amei no mundo, passado este momento de angústia uma imagem vem a minha mente, o cemitério. Pego meu carro e corro para lá.

Desvio de todos os túmulos até chegar ao dela, meu filho está deitado encolhido e dormindo em cima, começo a chorar de alívio. Recomponho-me e vou até ele, deito sobre o mármore e o puxo para meus braços, neste movimento ele acorda assustado.

– Calma, sou eu. – sussurro – Veio matar a saudade?

Ele concorda com a cabeça, como a mãe fazia, uma dor rasga meu peito e abro meu coração a ele:

– Não fuja mais, prometo fazer o mesmo, temos que nos unir para superar nossa dor, o que acha deste acordo, filho?

– Bom. – ele sussurra – É a primeira vez que me chama de filho.

– Não será a última, prometo. – afirmo e beijo seus cabelos – Seremos inseparáveis, sua mãe vai se orgulhar de nós.

– Ela está vendo a gente do céu, papai?

– Tenho certeza que sim e garanto que foi ela que o protegeu hoje até encontrá-lo.

Ele sorri e diz:

– Amo você, papai!

– Também o amo, filho!



Meus livros de contos podem ser adquiridos através do site da Amazon

Visite meu blog onde encontra tudo sobre meus livros Lela Rago